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quinta-feira, 21 de maio de 2020

Inimigo Oculto ganha versão online e se apresenta nesse próximo sábado, dia 23 de maio



Inimigo Oculto ganha versão online e volta em cartaz 
durante a quarentena 


Fotos by Patrícia Soransso


Depois de ser encenada em um hotel na Vila Madalena, em São Paulo, peça escrita por Roberta Simoni e Rodrigo França, que assina a direção com Andrea Bordadagua, peça é adaptada, mantendo a urgência que é fala sobre abusos contra as mulheres


Com números crescentes de casos de violência contra a mulher durante a quarentena, falar sobre as agressões vividas pelo público feminino (e que vão muito além da violência física) se faz mais do que necessário. É nesse cenário que acontece, no próximo sábado, dia 23 de maio, às 21 horas, a apresentação online de INIMIGO OCULTO, espetáculo que fez temporada no último trimestre de 2019 em um hotel na Vila Madalena. As apresentações serão no Instagram e Facebook do Teatro Cacilda Becker. No elenco de São Paulo, temos os atores Carlota Joaquina, Gabrielle Araújo, Naloana Lima,  Silmara Deon, Bruno Kott, Luciano Chirolli, Ricardo Gelli e Sidney Santiago Kuanza. A ação faz parte  do chamamento Teatros e Centros Culturais na Rede 2020, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. 

Na versão online, que tem edição e montagem de Bruno Temóteo, os atores vão aparecendo na tela, como se estivessem relatando suas histórias para o público, mas também interagindo entre eles. As situações mostram diversas formas de opressão contra a mulher, em diversas intensidades. Rodrigo França, que também é cientista social, sempre trouxe temas que levantassem questões que abordassem fissuras sociais e problemas políticos e resolveu falar sobre a opressão cotidiana contra as mulheres (principalmente aquela mais velada e psicológica, que nem sempre é considerada violência) há cerca de 2 anos e meio.  

“Números alarmantes de violência contra a mulher sempre chegaram até mim e isso sempre me deixou assustado, principalmente quando olhamos a porcentagem de mulheres negras nesses dados. Falar sobre o assunto se tornou urgente e, infelizmente, ainda temos essa necessidade”, afirma Rodrigo, que se juntou a duas mulheres para o projeto por acreditar que a visão do homem não seria completa e nem tocaria o público da maneira que peça precisava fazer. “Apesar de me juntar às causas femininas, esse não é o meu lugar de fala. Esse projeto é feito para dar voz às mulheres. Isso é de extrema urgência numa sociedade em que o machismo é estrutural. Fomos construídos em cima de conceitos que colocam a mulher num papel de objeto sem muita importância, o que dá aos homens o direito de fazer com elas o que bem quiserem. Isso precisa parar”, diz.

Rodrigo chamou Roberta Simoni para escrever a peça ao seu lado, que disse ter tirado a ideia da peça de um sonho. “Um dia, eu sonhei que caminhava por um museu que contava histórias de mulheres que sofreram feminicídio. Fiquei tão impressionada com o sonho que contei pro Rodrigo, que imediatamente sentenciou: "nós vamos fazer uma peça sobre isso, mana". Nada disso teria acontecido sem ele. Até mesmo a mulher engajada nas causas feministas que me tornei foi ele quem ajudou a formar. O Rodrigo esteve do meu lado quando eu tinha acabado de sair de uma relação abusiva e me ajudou a transformar o trauma em trama. Ele teve o papel fundamental não só de idealizar o espetáculo, como de me estimular a escrever cada cena. Ou seja, ele teve a sensibilidade de me fazer perceber que, através do meu ofício de dramaturga e roteirista, eu tinha as ferramentas para curar minhas feridas e, simultaneamente, ajudar outras mulheres a se curarem também e, sobretudo, a buscarem ajuda”, relata.

Foi Gabrielle Araújo, diretora de produção de INIMIGO OCULTO e também uma das atrizes do elenco, que trouxe o espetáculo para São Paulo, após anos de temporadas de sucesso no Rio de Janeiro, e também levantou a bandeira de trazer ele de volta durante a quarentena. A temporada em São Paulo teve sessões lotadas em todas as apresentações. “O tema e a maneira como ele desperta o público são extremamente necessários. Mesmo não tendo o inusitado de caminhar com a plateia pelo hotel, no online continuamos trazendo o público para dentro da discussão e gerando o incômodo necessário para fazer as pessoas pensarem. Projetos como esse são aqueles que nos lembram porque acreditamos no teatro. Essa é uma motivação também necessária em tempos de quarentena, em que temos pouco suporte a artistas e trabalhadores do setor cultural”, explica Gabrielle. 


Silêncio reflexivo

Andrea Bordadagua define INIMIGO OCULTO como uma peça silenciosa. “Ela desperta inúmeras vozes dentro de nós. Mas, ao mesmo tempo, é silenciosa. E ela simboliza o silêncio que deveríamos ouvir ao passar a chave na porta de casa e entrar nesse espaço que era para ser de tranquilidade e segurança. O espetáculo mostra que nem sempre é isso que acontece. Que esse lugar de acolhimento, em alguns casos, desperta uma enorme insegurança”

Rodrigo diz que a violência que vemos em cena não é violência física, facilmente identificada. “Algumas pessoas enxergam esse tipo de opressão como uma forma de cuidado ou um tipo de romance. Mas o público é confrontado de maneira a perceber que aquilo causa dor e sofrimento às mulheres. Já recebemos, inclusive, relatos de pessoas que só perceberam que viviam num relacionamento abusivo depois de ver algumas cenas e se identificarem no papel da vítima”, conta. 


Sinopse

Em Inimigo Oculto, público vive uma experiência de acompanhar como voyeur diversas cenas em que mulheres são expostas a agressões psicológicas que, muitas vezes, são tidas como normais em um sociedade construída em cima do machismo. 



Para serviço

INIMIGO OCULTO
Única apresentação online no dia 23 de maio, sábado, às 21 horas, 
no Facebook e Instagram do Cacilda Becker. 

Classificação etária - 14 anos.
Duração -  60 minutos.
Texto - Roberta Simoni e Rodrigo França.
Direção - Andrea Bordadagua e Rodrigo França. 
Assistência de Direção - Gabrielle Araújo e Bruno Kott. 
Direção de arte - Cris Matsuoka. 
Elenco - Carlota Joaquina, Gabrielle Araújo, Naloana Lima, Silmara Deon, Bruno Kott, Luciano Chirolli, Ricardo Gelli e Sidney Santiago Kuanza. 
Direção de Produção - Gabrielle Araújo. 
Produção Executiva - Renata Araújo. 
Assistência de Produção -  Theresa Fonseca. 
Assessoria Jurídica - Renata Araújo. 
Fotografia e Audiovisual - Patrícia Soransso. 
Design e Identidade Visual - Viviane Lamana.  
Editor e montador - Bruno Temóteo. 
Realização - Caboclas Produções. 
Produtora Associada - Impacto R Cultura e Arte. 

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