A Exposição "O Suicídio de Meu Pai", de André Penteado, teve sua abertura no dia 11 de junho, às 19h30, na Galeria Iberê Camargo da Usina do Gasômetro. A visitação, até o dia 12 de julho, é de terça a domingo das 14 às 19h. A Exposição chega a capital gaúcha após exibições na Photofusion Gallery, em Londres (2011), no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires (2012), e no Solar Ferrão, em Salvador (2014) - esta última como resultado do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger concedido ao projeto pela Fundação Cultural da Bahia.
A Exposição é composta por um pequeno livro contendo fotos do velório (que pode ser manipulado pelo público); uma escultura em neon criada a partir da assinatura do pai do artista em sua carta de suicídio (instalada na parede acima da base onde fica o livro); um políptico com 52 autorretratos onde o artista veste as roupas de seu pai; um políptico com 36 fotos dos cabides vazios que sobram ao final da criação dos autorretratos; uma montagem com 47 fotos do diário do artista (em diversos tamanhos) mostrando lugares escuros, objetos quebrados, becos sem saída; quatro fotos mostrando o lugar onde pessoas guardam objetos de seus parentes que se suicidaram (os títulos destas fotos correspondem aos objetos, sendo que estes algumas vezes não estão visíveis nas imagens); dois vídeos expostos lado a lado – no primeiro vê-se somente uma série de mãos enquanto ouvem-se pessoas falando sobre como se sentem por terem um familiar se suicidou e no segundo veem-se somente torneiras pingando.
As obras que compõem este projeto, criadas a partir de uma experiência vivida pelo próprio autor, exploram os sentimentos surgidos em três momentos distintos do processo de luto: a dor e o choque causados pelo recebimento da notícia, o processo de despedida, vivenciado nas semanas posteriores ao enterro e, por fim, os vestígios emocionais desta perda ao longo do tempo.
André Penteado - busca, ao utilizar a fotografia em sua forma mais crua – valendo-se de recursos como câmeras de bolso e o flash direto – explorar a capacidade deste meio em expressar sentimentos e sensações profundas sem precisar recorrer ao sentimentalismo. Aqui a emoção está na segunda camada, no assunto em si, não na imagem.
André Penteado sobre o processo de criação de "O Suicídio de Meu Pai"
"Meu pai, José Octávio, tinha 72 anos quando cometeu suicídio em 31 de janeiro de 2007, em São Paulo. Quando isto ocorreu, eu vivia há um ano em Londres. Durante este período, telefonemas e e-mails eram nossa única forma de contato. Logo após receber a notícia, peguei minha câmera e comecei a fotografar. Foi uma maneira impulsiva e imediata de lidar com o acontecido. No dia seguinte, de manhã, voei para São Paulo. Chegando lá, fui diretamente do aeroporto para o velório, onde continuei fotografando, parando somente ao fim do funeral no dia seguinte.
Duas semanas mais tarde, ao experimentar algumas camisas de meu pai, percebi que elas ainda continham fios de seus cabelos e seu perfume. Decidi então levar todas as suas roupas para um estúdio e me fotografar vestindo-as. Após um ano sem nenhum contato físico, senti como se o abraçasse pela última vez. Ao final daquele dia, vi jogados no chão do estúdio todos os seus cabides vazios e resolvi fotografá-los contra um fundo branco.
Depois de um mês em São Paulo, retornei a Londres. Lá, ao longo dos anos seguintes, carregando uma pequena câmera digital, produzi milhares de fotos. Em 2011, resolvi editar estas imagens e percebi uma grande concentração de imagens tristes, como objetos quebrados, lugares abandonados e ruas escuras. De alguma forma elas expressavam o meu luto.
Em Londres, frequentei por algum tempo um grupo de apoio para familiares de suicidas. Ouvir relatos de histórias semelhantes a minha era reconfortante. Decidi, então, convidar pessoas que conheci no grupo para me ajudarem a criar trabalhos que retratassem aspectos da perda que nos afetava e conectava. Em um desses trabalhos fotografei os lugares onde eles mantinham os objetos mais preciosos que os ligavam aos falecidos. Em muitas dessas fotos os objetos não estão visíveis.
Juntos realizamos, também, um vídeo. Nele, todos respondem a mesma pergunta: “como você se sente?” De cada participante gravei somente um take, sem nenhuma preparação, e não editei suas respostas – tal como acontecia no grupo, não se deve interromper uma pessoa quando ela está falando. Ao terminar as entrevistas, pedi para filmar torneiras em suas casas."
Sobre o Autor
André Penteado (1970) nasceu e trabalha em São Paulo. Utiliza a fotografia e o vídeo como instrumentos de investigação das complexas sensações decorrentes de momentos transformadores da vida. Em outra vertente, seu trabalho aborda questões histórico-políticas do Brasil.
Suas obras já foram exibidas no Brasil, na Argentina, na Espanha e no Reino Unido, onde teve seus projetos publicados no British Journal of Photography (ed. jan/2011) e na Source Magazine (ed. summer/2010) e realizou apresentações sobre sua obra na Photographers’ Gallery, Four Corners e Photofusion Gallery.
Em 2013 venceu o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger com o trabalho "O Suicídio de Meu Pai" e em 2014 teve seu projeto Tudo está relacionado selecionado para o Rumos Itaú Cultural 2013-2014.
Em 2014 lançou seu primeiro livro – "O Suicídio de Meu Pai" – e em 2015 lançará, pela Editora Madalena, o segundo – Cabanagem.
Exposição "O Suicídio de Meu Pai", de André Penteado
Galeria Iberê Camargo - Usina do Gasômetro
Av. Pres. João Goulart, 551
Visitação: De 12 de junho a 12 de julho
De terça a domingo, das 14h às 19h
Fonte : Luiz Cavalli et site da Prefeitura de Porto Alegre / Texto de: Cleber Saydelles / Edição de: Jandira Davila Feijó
À NE PAS MANQUER !!!
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